Quarta-feira, 8 de Outubro de 2008
A formação cívica, cultural e comportamental é ministrada, entre nós e, creio, não exclusivamente, por três agentes fundamentais a saber: a casa paterna, a escola e os audiovisuais, isto é, os pais, os professores e a televisão.
Esta ordem é absolutamente arbitrária: tem a ver com os sítios, os tempos e outros factores aleatórios. E não tem nada a ver com as “vítimas”, quero dizer: as crianças.
Por motivos óbvios, durante os primeiros meses de vida, os pais ainda tem alguma exclusividade na sua educação. Dentro em breve sejam amas, ou educadoras infantis, primeiro, professores, a seguir e televisão, sempre, substituir-se-ão àqueles que mal tiveram tempo de usar do seu atributo mais nobre e digno.
Querendo qualificar a acção educativa exercida sobre as crianças pode dizer-se que, como vimos, os pais estão cada vez mais ausentes. A educação desenvolvida por eles é, hoje, uma abnegação, porque dedicação a tempo parcial, porque muitas vezes condicionada pelo contraditório da escola moderna, progressista e carente de valores instilados no seio da família. Contudo, outras condicionantes se sobrepõem à abnegação paternal: o tempo disponível depois do trabalho, das canseiras e das preocupações. Então a primeira educação, a mais determinante da personalidade, sai, fatalmente, prejudicada.
A escola podia substituir-se no que ainda seria susceptível de recuperação. Mas não substitui. A escola actual não é já a fonte de conhecimento e de virtudes. Pelo menos, apenas. É mais um laboratório de testes e cobaias, onde os químicos ou os inertes são seres humanos em formação e onde, muitas vezes, germina a violência que vai, depois, exercitar-se nas pessoas, nos bens, nas ruas e nas estradas. Mas, antes exibe-se, perante professores impotentes e desautorizados. Porque quem o deve fazer, ainda não impôs condições aos professores para desenvolver com rigor a sua função pedagógica nem exigiu aos alunos a sua dedicação exclusiva ao estudo e à aprendizagem. E, a uns atribuir autoridade e a outros prescrever disciplina. Ressalvem-se, no entanto, alguns dos protagonistas – professores e alunos – idealistas, quixotescos que se angustiam com o presente frustrante e um futuro incerto.
Educador não desprezível é a televisão. O que é uma coisa singular, não se lhe conhecendo nem intuitos, nem vocação pedagógica. Contudo a sua acção (de)formativa decorrente da força da imagem e do impacto da cena, é evidente. A divulgação, sem peias, de toda a espécie de violência não passa, apenas, por sexo e morte. A própria animação, supostamente destinada ao telepúblico juvenil, designadamente, a japonesa – como sabemos a cultura japonesa é gémea da nossa – parece-me a mais contra-indicada para as crianças: vejam-se os efeitos visuais, num relampaguear insuportável, a sua oralidade guinchada e incompreensível e os próprios enredos, de uma violência intolerável. E, não esqueçamos que a televisão se intrometeu, já, nos programas pedagógicos. Exemplo modelar, o Big Brother como objecto de estudo na escola é uma abjecção, quando se discute a inclusão, ou não, dos nossos clássicos nos ditos programas.
Desta brilhante educação, quais as ilações?
Não precisamos ser exaustivos: aumento da criminalidade cada vez mais jovem, ciente de inimputabilidade, conspurcação de património público e privado sob invocação impune de liberdade de expressão criativa, e abolição de expressões como “obrigado”, “se faz favor”, “com licença”, etc, etc, estão de tal modo em desuso que, em breve, deixarão de fazer parte do léxico. E a culminar, o desaparecimento gradual de civismo na convivência social.      
Perante a demissão dos pais, a desautorização dos professores e a ditadura das audiências, só nos resta questionarmo-nos quanto à qualidade das gerações futuras.
Contributo enviado por: Manuel Soares Traquina


publicado por GP/PSD às 14:42 | link do post | comentar

Temas

100% aprovações

apresentações

avaliação das escolas

avaliação: notas dos alunos

clipping

contributos

custos com retenções

debate

declaração

estatuto do aluno

facilidade dos exames

facilitismo

fim do exame de filosofia

opinião

perguntas

provas globais

rankings

resultados sem comparabilidade

todas as tags

Posts recentes

Pedro Duarte interpela a ...

Escolas estão a aplicar d...

PSD pede apreciação parla...

Ministra no Parlamento se...

Ministra da Educação diz ...

Ministério afirma que sem...

Ministério não considerou...

PSD confrontada Ministra ...

arquivos

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

links