O ensino era para os que podiam e queriam, agora, é para todos, quer queiram quer não, do apuro da melhor colheita passou-se à extracção de vinho de toda a casta, até o humilde vinhateiro teme pelo resultado. O ensino que na diversidade oferecia escolha aos alunos, tratando desigualmente o que era desigual (a verdadeira igualdade) com Liceus, Escolas Técnicas e Escolas Comerciais, passou a trabalhar na unidade a amálgama da juventude, massa humana, como seres indistintos, indistinguíveis, uniformes e conformes.
Em vez de fazer-se evoluir a Escola “tradicional”, construiu-se sob as suas ruínas, canibalizou-se, e o edifício actual ficou doente, doente. O remédio foi-se ministrando em implacáveis cortejos de remendos, consertos, arranjos, reparações, refazimentos, e revolvimentos, a que se foi dando o eufemístico nome de Reforma do Ensino, do qual redundou o actual estado de aparente “baixo nível”. No fim, a Escola Pública passou mesmo a não servir todos, discriminando quem não pode, na medida em que só “nivela” os seus, com explicações, quem pode. Esta mudança criou a verdadeira escola da desigualdade. Este é o juízo concorde dos ensinantes apaixonados e preocupados chefes de família.
Chegam-me dos mestres e professores ser a Reforma de bem intencionados pedagogistas, peritos em matérias, circulares, formulários, tabelas e estatísticas, que, empreendendo a grande batalha, na sua altivez, munidos de patas traseiras, erguendo-se, multiplicaram conteúdos, alteraram métodos e exames, sem ligar ao “bom senso” do experimentado “mestre-escola”. A este propósito o insigne escritor Italiano, Jiovanni Papini, (a Itália do pós guerra passou por tais Reformas) disse - “à teimosia dos estultos de estirpe asinina só resta educá-los ou suportá-los. O primeiro partido é desesperado o segundo penosíssimo”.
É este o resultado do caminho aziago escolhido: muitos alunos consideram o ensino um fardo sem préstimo, como os estômagos jovens que, com excessiva abundância de alimentos, em vez do prazer da saciedade experimentam apenas a náusea, e ainda um bom número de mestres, roubados das suas forças físicas e intelectuais, sentem-se exaustos e desonrados. Assim, o abandono.
O objectivo de toda a Escola é inspirar o amor pelo saber e fazer o jovem saber aprender de per si, desiderato possível como sejam oferecidas escolhas sérias de clara orientação ao futuro profissional dos alunos conquanto o professor não esteja oprimido por programas esgotantes e não deixe de ver ser elevada a sua dignidade social.
Parece ser mesquinho confiar as criaturas mais preciosas da Pátria a professores condenados a honorários avaros. Os ensinantes de todos os graus deveriam ser colocados a par dos mais altos servidores da Pátria, só assim seria lícito esperar a tranquilidade de ânimo para um verdadeiro apostolado espiritual do docente à Escola, dessa forma, os heróicos professores de hoje veriam, em vez de alunos saturados, alunos alegres e ardentes enamorados do saber, e nós, em vez de alunos e mestres, antagonistas exaustos de telemóvel em riste, veríamos uns e outros, satisfeitos e recompensados. O sucesso viria por acréscimo.
Exortação ao professor
O existente de hoje, como discorro, está duplamente condenado, pelo que já não é e pelo que ainda não é, como que ceifamos onde não se havia semeado, e receamos que não se vindimará nas vinhas mal aprumadas de hoje. Não adianta pagar sem resignação e receber sem gratidão os débitos e créditos que a geração pretérita fixa, adianta sim, acima de tudo, sermos capazes de sonhar e encarar o sonho encarecido na aberta claridade da vigília, não esquecendo que o próprio universo é o perene e sublime sonho de Deus.
Assumi, pois, ó lentes desta Pátria, a exortação que veio dos confins da prístina Helénica Grécia - Enquanto vives, esplende.
Contributo enviado por: José Fernandes Basto