Sexta-feira, 31.10.08

Na revista «Atlântico» de Março de 2008 (pp. 22-23) publiquei um texto do qual aproveito um excerto a propósito da discussão despoletada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) que propõe que se equacione o fim das reprovações até ao final do segundo ciclo do básico:

 
«Para além do Ministério da Educação, as organizações que por norma têm “negociado” ou “concertado” as políticas educativas reduzem-se a uma – o Estado – que finge ser muitas. Se é o Estado (normalmente por via do Ministério da Educação, mas não necessariamente) quem acaba por ser o maior financiador dos sindicatos (sobretudo por via da dispensa de parte ou da totalidade da componente lectiva aos professores sindicalistas), da Confederação Nacional de Associações de Pais (CONFAP) ou do Conselho Nacional de Educação (CNE), das duas uma: ou esses organismos são a voz do dono; ou os seus pareceres críticos e pressões de pouco ou nada valem porque tais organismos na prática dependem directamente dos financiamentos do Estado. Está-se perante uma espécie de jogo de espelhos. É em grande parte por isso que quem detém o poder político da educação tem governado em rédea solta, com carta branca para os mais variados disparates ou atropelos. Portugal, pelo peso do Estado, apresenta-se como um caso radical.
 
Dado o actual enquadramento do jogo político da educação, a dita sociedade civil, ao não se conseguir autonomizar do Estado, não é tida nem achada ou, na melhor das hipóteses, não passa de um pano de fundo manipulável. Se quanto aos sindicatos dos professores e à CONFAP a solução passa por deixarem de ser pura e simplesmente financiados pelo Estado (o dinheiro dos contribuintes jamais deve servir para engenharias sociais assentes na manipulação política das ditas “forças vivas”), mais radical tem de ser a atitude política face ao CNE. O último, para além do peso orçamental que deveria ser publicamente debatido e solidamente justificado, tem servido para esvaziar o Parlamento de um papel mais relevante que deveria ter em matérias educativas.
 
A pretexto da existência do CNE, o Parlamento não se coibiu nas duas últimas décadas de irresponsavelmente “despejar” para fora da política e, pior, da democracia, o debate sobre o ensino (ficando sobretudo e apenas com a pose majestática da decisão), sonhando com um reino idílico de consenso “lá fora” (do Parlamento e da “infectada” política), precisamente quando as matérias em causa são socialmente complexas. Mas é precisamente por isso que elas exigem um permanente confronto de perspectivas. Fechar o CNE poderia ter o efeito simbólico de fazer entrar as políticas educativas em pleno no Parlamento, isto é, abrir-se-iam as portas do ensino à Política (de facto) e à Democracia (de facto). Mesmo se isso não acontecesse, pelo menos o Estado pouparia gastos com a supressão de um órgão que em anos e anos de existência não só foi inútil, como politicamente perverso.
 
Ao nível do debate e da gestão das políticas educativas continuamos próximos do salazarismo. O incrível é que tudo à volta mudou. Será?!»
 
Como é óbvia a constatação dos males do ensino serem, na essência, os mesmos há décadas…

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Terça-feira, 21.10.08

Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação, deu uma entrevista à revista Visão.

A dado passo o jornalista diz-lhe que há cerca 7,4% de alunos que reprovam na 2.ª classe e pergunta-lhe se vale a pena reprovar os alunos. A ministra respondeu assim:
 
“Não vale. E isto para uma criança de 7 anos é dramático. É o início de um percurso desastroso. Absolutamente desastroso. São estas crianças que depois abandonam a escola. A primeira coisa é que ficam num ano de ensino desajustado à sua idade. Todos os amiguinhos que vão ter no ano a seguir, já não são os mesmos, são mais novos, e começa aí um processo de desajuste. Todos os estudos provam que a repetência não permite recuperar nada. Porque é que ficam para trás? Porque antigamente a escola era assim.”
 
Esta resposta da ministra é uma declaração desassombrada e até mesmo corajosa. Ela escancara à evidência uma das razões, quiçá a mais relevante, para a baixa qualidade das aprendizagens dos alunos portugueses. Para ilustrar o que digo, vou aqui contar a história do Zé, de um dos muitos “Zé” que conheci e conheço:
 
O Zé entrou para a primeira classe e desde cedo revelou dificuldades na aprendizagem. A professora, atenta e dedicada, logo ensaiou estratégias diferenciadas para o ensino do Zé. O êxito, todavia, foi quase nulo. A professora, então, elaborou um relatório sobre o Zé e as suas dificuldades e o Presidente do Conselho Executivo determinou que o Zé passasse a ter horas de apoio individualizado com outra professora. E assim se fez. Mas, novamente, sem êxito. Chegado o fim do ano, feito o balanço, a professora concluiu que o Zé não estava em condições de passar para a segunda classe. Só que a Lei…
A lei é o Despacho N.º 1/2005, que no número 55 diz assim: “No 1º ano de escolaridade não há lugar a retenção, excepto se tiver sido ultrapassado o limite de faltas injustificadas, em observância do disposto na Lei nº 30/2002, de 20 de Dezembro.”
Portanto, em vez de reprovar, o Zé passou para a segunda classe, acompanhando os amiguinhos, ao abrigo do sistema de passagem automática de que fala a senhora ministra, que, como se vê, já existe em Portugal.
No ano seguinte o Zé manteve a professora de apoio desde o início do ano. Mas quando esta não estava, a professora do Zé, que não era nenhuma super-mulher – nenhum professor é um super-homem – tinha dificuldade em conciliar o ensino do Zé com o dos colegas. E o que é verdade é que o Zé cada vez estava mais longe deles no progresso da aprendizagem.
O Zé gostava muito de brincar com os amiguinhos no intervalo. Mas, quando dentro da sala, o Zé ficava algo triste. Os amiguinhos faziam coisas que a professora mandava e que ele nem sequer percebia. Liam textos, discutiam, faziam composições e até já resolviam problemas de aritmética, e ele ficava sempre confuso e triste por não compreender nada daquilo. Era um “seca” estar dentro da sala. Ficava um bocadinho mais satisfeito quando ia para o computador e brincar com um jogo engraçado, mas logo aparecia a professora a dizer-lhe para fazer umas coisas esquisitas. Que “seca”!
A professora, então, elaborou um relatório – mais um – e o Zé foi observado por uma psicóloga que fez algumas recomendações quanto às estratégias e às próprias actividades que lhe deveriam ser propostas. E assim foi feito, tanto pela professora da turma, como pela professora de apoio. Mas os progressos foram muito pouco sensíveis.
Chegados ao fim do ano, a professora propôs que o Zé reprovasse, que ficasse retido na segunda classe. Mas a lei…
A tal lei, no número 56, diz que: “Um aluno retido no 2º ou 3º ano de escolaridade deverá integrar até ao final do ciclo a turma a que já pertencia, salvo se houver decisão em contrário do competente conselho de docentes ou do conselho pedagógico da escola ou agrupamento, de acordo com o previsto no regulamento interno da escola ou agrupamento, sob proposta fundamentada do professor titular de turma e ouvido, sempre que possível, o professor da eventual nova turma.”
Ora, por causa disto, a professora fez um extenso relatório, pormenorizando as dificuldades do Zé e identificando todas as estratégias e medidas de apoio já utilizadas, concluindo com a proposta de que o Zé reprovasse e mudasse para uma turma da segunda classe, mais adequada ao nível de desenvolvimento do rapaz.
O Conselho Pedagógico, apesar do inerente aumento da taxa de insucesso, acabou por concordar com a proposta da professora. Só que o Presidente da Escola não lhe pôde dar seguimento: as várias turmas da segunda classe que iriam funcionar no ano seguinte já tinham o número máximo de alunos, 24, e, para que uma delas recebesse o Zé, seria preciso pedir uma autorização à Direcção Regional de Educação, sob pena de ficar em desconformidade.
Por esta razão, o Zé continuou na mesma turma dos amiguinhos. A professora também. Aliás, a super-professora ainda ficou mais super; tem, agora, os alunos que passaram para a terceira classe, tem dois alunos que estão um pouco mais atrasados e que vão seguir o programa da segunda, e tem o Zé que ainda está ao nível da primeira. Uma turma que deveria ter alunos de um só ano tem, afinal, miúdos de três anos! E não se pense que isto acontece numa escolinha de lugar único num qualquer recôndito local deste país. Não! Isto passa-se num moderno e bem equipado Centro Escolar!
 
E chega.
A continuação desta história pode ser escrita por qualquer pessoa: o progressivo distanciamento, a reprovação no 5.º ou no 7.º ano, o abandono, e até mesmo a evolução para comportamentos de indisciplina, todos sabem o resto.
 
Mas não tinha que ser assim! O Zé não deveria ter sido abandonado à sua sorte sob a aparência de se pretender o contrário. E haveria duas alternativas:
 
O Zé poderia ter ficado reprovado logo no primeiro ano. Sem dramas nem traumas. Rapidamente faria novos amiguinhos que teriam um nível de desenvolvimento mais de acordo com o dele. E, se traumas houvesse, seriam sempre mais benignos do que o que o marcou quando percebeu que não conseguia fazer as mesmas coisas que os colega.
 
Mas também poderia não ter reprovado.
Efectivamente, podemos ter um sistema de passagem automática. O que não podemos é passar os miúdos para o ano seguinte mantendo juntos alunos que apresentam níveis de desenvolvimento distantes. Os alunos que transitarem sem terem atingido o nível previsto, deverão ser agrupados numa turma homogénea. E que não se diga que isto é elitismo. É exactamente o contrário. É assumir que é preciso recuperar aqueles alunos e que os professores – que não são super-homens – terão menos dificuldade que se tiverem de dispersar a atenção por grupos distintos. Sei bem que isto não se coaduna com os dogmas sociológicos das Ciências da Educação, mas são exactamente esses que nos vêm afundando de há muitos anos a esta parte.
 
É fundamental assumir estas premissas nos 4 primeiros anos de escolaridade, isto é, na escola primária. É ela que determina o futuro dos miúdos. É nela que se adquirem as competências estruturantes que hão-de permitir o aprofundamento dos conhecimentos, e sem as quais não será possível progredir, por mais apoios que se dêem aos alunos.
 
Se assim fizermos na escola primária, resolveremos a maioria dos problemas que actualmente surgem nos oito anos seguintes.
 
Agnelo Figueiredo
Professor e Vereador da Câmara Municipal de Mangualde

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Quinta-feira, 09.10.08

No nosso pequeno mundo educativo caseiro, nacional, por vezes escapam-se-me as razões que levam a que se confira mais relevância a determinado tipo de notícias e menos a outras. Umas vezes somos surpreendidos pelo inusitado relevo que se atribui a determinadas estatísticas, relatórios e estudos, particularmente se originários de instâncias internacionais, que encerram o especial mérito de ajudar à consecução e validação de uma estratégia política específica; outras vezes não conseguimos encontrar uma explicação razoável para o manto de silêncio que se abate sobre documentos de igual valor e alcance, das mesmas instâncias, mas que não servem essa mesma estratégia.

Vem isto a propósito da inexplicável indiferença com que (não) passou, entre nós, a aprovação pelo Parlamento Europeu, no pretérito dia 23 de Setembro, por 579 votos a favor, 46 contra e 5 abstenções, o Relatório Sobre a Melhoria da Qualidade da Formação de Professores, apresentado pela eurodeputada espanhola Maria Badaia i Cutchet (PSE). Não pode deixar de ser estranho, preocupante até, que, tendo a Educação ocupado de forma quase sufocante o epicentro da actividade política desde que o ano escolar iniciou, documento de tamanha importância tenha passado despercebido, não só a políticos como a especialistas da coisa educativa.
Centrando a atenção nos professores e respectiva formação, no Relatório insta-se os Estados-Membros, nomeadamente, a “desenvolver todos os esforços para garantir que todos os professores sintam que fazem parte de uma profissão respeitada e valorizada”, e considera-se simultaneamente que “não seria justo atribuir exclusivamente aos professores a responsabilidade pela sua acção educativa, já que a sua capacidade para ministrar um ensino adequado a todos os alunos está intimamente ligada às condições em que leccionam, aos apoios disponíveis, ao número de alunos com dificuldades de aprendizagem em cada aula, ao ambiente social e cultural das escolas, à cooperação das famílias e ao apoio social recebido”. Nada afinal que os professores portugueses não tenham já acentuado até à exaustão, mas que tem sido liminarmente desvalorizado pela tutela. Daí que seja ainda mais pertinente o mais que aí se recomenda a todos os Estados-Membros:
  • Recrutar os melhores candidatos porque a “qualidade dos professores é o principal factor determinante das variações a nível da aprendizagem dos alunos na escola”;
  •  Melhorar o estatuto, o reconhecimento e a remuneração da profissão docente, tornando o ensino uma “profissão atractiva”. Nesse sentido, “o estatuto dos professores na sociedade reveste-se de uma importância fundamental, contrariando a noção de que qualquer um pode ensinar”;
  •  Investir na formação inicial e contínua visando “promover o desenvolvimento profissional contínuo dos professores ao longo da sua carreira, de modo a que estes tenham a oportunidade de melhorar e actualizar as suas qualificações, bem como as suas competências pedagógicas”;
  • Apoiar fortemente o intercâmbio de melhores práticas entre os Estados-Membros face à necessidade de “aprenderem uns com os outros e de procederem entre si ao intercâmbio de melhores práticas, de acordo com o desempenho e as normas internacionais”;
  • Promover o reforço do poder de decisão ao nível da escola, porquanto se entende que “os dirigentes de cada estabelecimento de ensino deveriam ter mais responsabilidade na resolução e gestão dos desafios educativos a que têm de fazer face, incluindo as suas próprias necessidades em matéria de formação de professores”.
Recomendações que constituem o corolário de um documento extremamente significativo, mesmo até, se quiserem, enquanto marco de referência prospectivo das políticas educativas dos Estados da União Europeia. É curioso até verificar, que tais recomendações parecem coincidir, ainda que instrumentalmente, com o leque de prioridades da nossa educação. Há sem dúvida coincidência temática, mas apenas isso.  
Ora, a leitura integral do Relatório (que recomendo vivamente) suscita, a meu ver, a seguinte interrogação: uma exigente e rigorosa formação de professores será decisiva para melhorar, por si só, a qualidade geral da educação e do ensino?
Decisiva será, mas não suficiente. Impõe-se, necessariamente, colocar igual rigor e exigência do lado dos alunos, das famílias, da comunidade em geral e, por maioria de razão, das políticas educativas e dos decisores políticos que as desenham e concretizam.
Já afirmei, aliás, noutro espaço, que na nossa sociedade está cada vez mais enraizada a ideia de facilidade e de ausência de rigor na educação. Muito por culpa de discursos e práticas dos que vão detendo maiores responsabilidades de governação. Sustenta-se, intencionalmente ou não, que o sucesso escolar – visto atomisticamente pelo lado dos resultados escolares dos alunos – é um direito quase natural, inalienável, que exige esforço e investimento de todos, com excepção daqueles nele directamente implicados. É insensato fazê-lo, porque não promove nem a assunção, nem a partilha de responsabilidades, tendendo-se com isso a inculpar quase exclusivamente os professores.
Melhorar a qualidade da formação dos professores? Sem dúvida; introduzir processos de avaliação do seu desempenho? Por certo que sim, mas desde que a lógica de prestação de contas – que deveria acolher e incentivar processos cooperativos de crescimento profissional, com vista à melhoria das práticas em benefício dos alunos e não lógicas fracturantes e de antagonismo entre pares – envolva com igual rigor alunos e todos os outros actores directamente envolvidos no processo educativo. De que valerão bons professores num universo de facilidade e de desresponsabilização? 
De que servirá também que a avaliação continue a incidir em exclusivo sobre o desempenho dos professores e das escolas, deixando de fora as políticas educativas? Não seria desejável, mesmo indispensável, a existência de entidade(s) autónoma(s) que medisse sistematicamente os impactos positivos e negativos das medidas de política educativa? Assim se evitariam repetições de erros, investidas casuísticas ao sabor das percepções empíricas de cada governante e, acima de tudo, muito se contribuiria para uma ampla e consequente prestação de contas, por todos.

Então será importante ter presente que quando nos referimos a avaliação, rigor e exigência na educação não estão em causa apenas os professores e as escolas, mas sim todos nela implicados.

 

João Henrique Grancho, Professor

Presidente da Associação Nacional de Professores


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Quarta-feira, 08.10.08

De medida em medida, tomou este governo a seu cargo a tarefa árdua de conduzir a Escola pelos caminhos da modernização e do desenvolvimento tecnológico. Na verdade, penso que este investimento no desenvolvimento de competências em crianças e jovens, no âmbito das novas tecnologias, pode revelar-se profícuo em variadíssimos patamares que conduzirão ao crescimento pessoal.

Todavia, tal promoção poderá ficar comprometida se a mesma não for acompanhada de um desenvolvimento de competências básicas ao nível do raciocínio lógico e matemático, da leitura compreensiva e escrita, bem como no próprio tratamento da informação que o “mundo novo” da Internet disponibiliza, quase infinitamente e sem controlo.
O livro, o papel, o lápis, o ábaco, o material concreto e manipulável, mal gradas todas as eventuais conjecturas, podem vir a ser abandonados e a ser substituídos por algo etéreo, virtual, tal como se derrubam os jardins e as florestas e se erguem, em seu lugar, torres de betão que enclausuram o pensamento criativo.
No caso concreto da Escola e mais especificamente do Espaço Escolar, - se nada se fizer, se nada for pensado - pode assistir-se, apesar da tão propagada modernização a um “encarceramento” diário das crianças e dos jovens num espaço confinado a quatro paredes e uma dúzia de computadores, relegando para segundo plano os espaços de socialização, tão desejados, por contradição, quando se procedeu ao encerramento de escolas com reduzido número de alunos e à transferência dos mesmos para modernos complexos escolares.
Na falta dos espaços de socialização sobram o isolamento e o egoísmo. O tempo da brincadeira e da interacção é agora substituído por um monitor e pelos modelos multimédia, em detrimento da bola e dos modelos humanos.
Em casa, o tempo é escasso para se instituir as regras de conduta, em virtude de os horários dos pais terem sido, substancialmente aumentados, o que provoca uma falha na relação educativa, quando mesmo, mina a autoridade dos pais. Por contraponto, o papel social educativo passou a ser um exclusivo da Escola, com as lacunas de um sistema onde falta pessoal técnico devidamente habilitado para fazer face a tantas e tão diferentes necessidades.
Por tudo isto, temo que a Escola se transforme, a breve trecho, num manancial burocrático, onde os papéis assumam lugar de relevo e nos estejamos a esquecer da verdadeira razão de existir da escola – a Educação das crianças e jovens.
Cresce a indisciplina e faltam estruturas de apoio aos alunos e suas famílias. Surge a violência, a cada passo, e faltam auxiliares de acção educativa, equipas multidisciplinares e formação na gestão de conflitos.
Objectiva-se a melhoria dos resultados escolares (sucesso de 100% ao nível do 9.º ano para o próximo ano lectivo) e atalha-se tal objectivo com medidas meramente burocráticas e pouco congruentes. Interrogo-me se tais resultados serão o reflexo da exigência educativa por que se deve pautar uma escola de qualidade.
Lentamente assistimos à morte da Escola da cidadania e da equidade, sendo poucos os que, sem estruturas de apoio à margem da escola, chegarão ao ensino superior.
Na escola pública, as turmas numerosas são obstáculos ao ensino individualizado e o apoio ao estudo, bem como os planos de recuperação não resultam porque os alunos são os mesmos; as turmas são as mesmas. A solução encontrada tem passado por enviar os alunos com mais dificuldades para currículos diferentes, não passando, por isso mesmo, de uma medida discriminatória e que põe em causa a Escola Inclusiva. É uma solução sem solução à vista!
Receio também que as Escolas de Referência, por falta de pessoal especializado e demais técnicos auxiliares, mais não seja do que o prenúncio do fim do Ensino Especial Público de qualidade, para o incremento de “escolas” privadas, principescamente pagas e nas quais as crianças e os jovens encontram todos os profissionais a que têm direito e que deveriam ser disponibilizados pela Escola obrigatória e tendencialmente gratuita – a pública de todos e para todos!
É que, apesar desta visão parecer a muitos desatentos, grotescamente desanimadora, continuo a acreditar num futuro para a Escola Pública, lugar que privilegio na educação dos meus dois filhos e educanda. É uma reflexão, tão só, mas creio ser um pequeno contributo para ajudar a construir a ideia de uma melhor escola para um maior futuro.
 
Maria José Viseu

Porta-voz da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação(CNIPE)


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Terça-feira, 07.10.08

É minha convicção que a Educação é a chave para o progresso de qualquer sociedade. No entanto, a Educação raramente é pensada como factor primordial de desenvolvimento social, cultural e económico.

O actual governo não foge à regra e, mais grave do que isso, tem pautado a sua actuação por uma manipulação, arrogância, prepotência e recusa de diálogo da parte da equipa liderada pela Sr.ª Ministra da Educação.
Na realidade, os últimos 3 anos ficam assinalados como um período caracterizado por uma desmoralização, desautorização e humilhação dos professores, eles que “têm um papel decisivo para o futuro do nosso país”, como declarou D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, e por uma incontinência legislativa que, tal como afirmou o Professor Daniel Sampaio, “transformou as escolas em verdadeiras arenas burocráticas”.
  • Iniciaram, com o novo Estatuto da Carreira Docente.
      Um estatuto que não tem em conta as peculiaridades muito próprias e complexas deste       corpo especial da função pública, que tem a seu cargo a difícil, mas honrosa tarefa de  preparar os futuros cidadãos do nosso país.
  • Agravaram, com o incoerente e injusto Concurso para Professor Titular, baseado unicamente nos últimos 7 anos de carreira, que criou, artificialmente, duas categorias de professores, provocando uma cisão profunda na classe.
  • Persistiram, com a publicação do Decreto Regulamentar 2/2008 que se refere ao sistema de avaliação do pessoal docente.
            Um modelo de avaliação excessivamente burocrático, altamente subjectivo, injusto e complexo.
  • Refinaram, com a publicação do Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos de Ensino, que põe em causa a participação democrática na vida das escolas.
  • Atingiram o auge com o novo Estatuto do Aluno, que aponta para uma clara desautorização do professor e introduz o facilitismo, pela apologia que o mesmo faz ao absentismo e pela injustiça que cria face a quem é cumpridor.  
 
Das consequências desta forma errada de pensar a Educação emergem obviamente:
  • Múltiplas implicações negativas para a organização e eficácia do sistema educativo.
  • Uma menorização do processo de ensino aprendizagem e da relação pedagógica com os alunos.
  • A insuficiência de tempo para que o professor possa ser PROFESSOR!
A necessária e desejável melhoria dos resultados escolares dos nossos alunos exige mudanças na organização curricular e na organização das escolas.
Mas isso não pode acontecer sem a devida planificação e, muito menos, contra os intervenientes no processo educativo.
Atravessamos um momento de crise económica e social, em que a limitação de recursos se faz sentir de forma acentuada.
Isso implica maior lucidez na avaliação da situação e das políticas implementadas e maior responsabilidade na análise das medidas a promover.
Temos que ser conscientes nas prioridades que estabelecemos, criteriosos na sua aplicação e exigentes na sua gestão.
Acredito que, em 2009, com o PSD, será possível uma política de educação coerente e estável, que seja um projecto credível e de futuro para o ensino em Portugal!
 
Fernanda Velez (Professora).

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Segunda-feira, 06.10.08

Liberdade versus igualitarismo. A alternativa à actual política de Educação deveria ter a liberdade de escolha como ponto de partida. Liberdade de escolha dos pais, em primeiro lugar; liberdade das escolas, em cooperação comunitária com os encarregados de educação; liberdade dos alunos, que nunca serão todos iguais, ao contrário do que pressupõe o governo do Partido Socialista. Só da confluência de interesses deste triângulo - pais, escolas e alunos - pode surgir a igualdade de oportunidades, que não nasce por obra e graça da planificação central do Estado, como parecem entender os principais responsáveis da 5 de Outubro, a começar pela ministra da Educação. Quando se acredita, como Maria de Lurdes Rodrigues afirma acreditar, que “a repetência não serve os alunos e as escolas", salta à vista todo um programa ideológico.
Há que reconhecer alguma coerência no percurso e no desempenho da ministra. O combate sem tréguas contra os professores em nome de um suposto interesse geral, a ausência de medidas contra a indisciplina e a preocupação estrita com os índices estatísticos do (in)sucesso escolar, são três das marcas de água do consulado de Maria de Lurdes Rodrigues. Retirando a autoridade aos professores, elemento vital para um ensino exigente, a ministra conduziu o sistema a um beco sem saída, onde o sucesso dos alunos e a avaliação das escolas são nivelados por baixo, em função de resultados viciados à partida.
Cereja em cima do bolo de alguma propaganda governamental é o episódio de entrega dos famosos computadores Magalhães em sucessivas cerimónias mediáticas, com a presença de mais ministros do que alunos e professores. Ninguém contesta a importância de meios informáticos nas escolas do séc. XXI. Mas é evidente que os computadores não são fonte milagrosa de sucesso escolar, nem jamais poderão substituir o papel dos professores nas escolas. São instrumentos - como o giz, a régua ou o esquadro. Os Magalhães não servem de nada se não contarem com educadores preparados técnica e pedagogicamente para os utilizarem.
Este foi um episódio paradigmático da nova tendência tecno-facilitista do Ministério da Educação: a distribuição dos computadores decorreu mais rápida que a entrega dos manuais escolares, decerto mais urgentes e necessários para a prática escolar no ano lectivo que já começou.
 
Alternativas? Restituição da autoridade aos professores, concessão de verdadeira autonomia às escolas e liberdade de escolha a pais e alunos. Não é preciso ir muito longe para encontrar modelos diferentes. Nem é preciso sair da Europa. Basta ir beber inspiração à outrora fonte privilegiada da cultura socialista portuguesa. Refiro-me a França, hoje habitada por ideias que poderão soar heréticas aos ouvidos do primeiro-ministro José Sócrates e da sua ministra.
Cito algumas intenções do programa eleitoral do presidente francês, Nicolas Sarkozy: “dar autonomia aos estabelecimentos escolares para lhes permitir criar projectos educativos específicos. Este método tem provas dadas. Os estabelecimentos com melhores resultados para todos os seus alunos são aqueles que souberam criar uma dinâmica de sucesso graças a um projecto específico. É concedendo diversidade nos métodos, sem renunciar ao carácter nacional dos programas e das avaliações, que permite encontrar a solução que permita a cada aluno crescer e desenvolver-se”.
Esta autonomia tem de ser acompanhada por uma avaliação também autónoma dos resultados pelas próprias escolas, sujeitas a regras previamente conhecidas, assim como por um empenho diferente das instituições públicas no apoio que concedem aos estabelecimentos de ensino, consoante o grau de dificuldades dos mesmos. O Estado só deverá estar presente nas escolas com problemas e quando a sua intervenção for considerada benéfica e indispensável por professores e pais. 

Consequência das premissas anteriores é a liberdade de escolha dos pais. Partindo do princípio que cada escola apresenta um projecto específico, é lógico que os pais possam escolher onde querem que os filhos aprendam – e que as melhores escolas, públicas ou privadas, sejam recompensadas por essa mesma escolha. Através de propinas, parcerias público-privadas que possibilitem a criação de bolsas de estudo ou a aplicação individual, caso a caso, com a devida ponderação, do cheque-ensino. Este não é um programa para se construir num dia, num ano lectivo ou sequer numa legislatura. Mais do que grandes reformas utópicas, pede-se hoje o regresso à realidade, tendo em conta o conhecimento prático de quem ensina e aproveitando os melhores exemplos das políticas educativas europeias.

 

Paulo Pinto Mascarenhas
Colunista e blogger do Atlântico

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Domingo, 05.10.08

Quando olho para o meu percurso de aproximação ao PSD ao longo de quase três décadas encontro, na origem, lógicas emocionais que provavelmente precederam lógicas de orientação racional. Todavia, à medida que o tempo foi passando, a relação entre a emoção e a razão tendeu a inverter-se e, ainda assim, não deixo de encontrar motivos suficientemente fortes para me manter na área política do PSD, tanto mais numa altura em que o senso comum tende a valorizar a condição de independente ou, mais ainda, tende a valorizar predisposições contra os partidos políticos. Por um lado, por ser social-democrata convicto e, por outro, por saber que o enfraquecimento dos partidos políticos tem uma relação directa com o reforço do poder do Estado (ou do regime de partido único) cujo resultado inevitável é a degradação da qualidade da vida pública, é com à vontade que exprimo a minha profunda insatisfação com a atitude do PSD na área da educação. Não estão em causa pessoas concretas que têm servido o Partido e o País, mas a natureza do projecto político colectivo para o ensino do PSD, tanto mais perversa quanto mais essa dimensão da acção partidária se afunda na omissão.
 
O mal não vem de Fevereiro de 2005 com a vitória do Partido Socialista com maioria absoluta. Remonta à fundação do PSD em 1974. Quem se der ao trabalho de analisar o que se escreveu sobre a educação no programa do Partido de 1974 e na (única) revisão de 1992 perceberá a que me refiro. Nesses documentos é por demais evidente que o Partido navegou a onda pautada pelo monopólio ideológico de uma espécie de teologia da libertação adaptada ao ensino, sem que, ao longo destas quase três décadas e meia de existência, se tenham manifestado no seu interior preocupações ideológicas consistentes no sentido do PSD se demarcar dessa orientação programática, distinguindo-se das demais forças políticas, em especial dos partidos de esquerda e de centro-esquerda. O PSD acaba por ser, nessa perspectiva, um dos mais sérios responsáveis pelo regime de pensamento único que domina as políticas educativas em Portugal há mais de três décadas e que perpetua a herança educativa do Estado Novo no que tem a ver com a ausência de pluralismo ideológico no sector. Enquanto essa tendência de longa duração não for quebrada não haverá melhorias sustentadas. Não alimento, portanto, o que quer que seja de saudosismo. Antes uma ambição para o futuro por ser tão errado um ensino centrado no professor, quanto um ensino paranóico centrado no aluno que até agora não foi capaz de buscar um equilíbrio entre direitos e deveres face à instituição-escola.
 
Os que vêem nessa tese qualquer exagero era bom que leccionassem numa das inúmeras escolas do ensino não superior das periferias urbanas para perceber o regime de opressão ideológica em que uma grande parte de professores e alunos vive e para se perceber como o governo do PS (versão 2005) não inventou nada que antes não existisse, mas limitou-se a radicalizar tendências que há muito pautam o ensino (e para as quais os socialistas já haviam contribuído na versão 1995). Se na última década o PS vem cometendo erros atrás de erros por acção (inventando e massificando sem testagem prévia absurdos como as aulas de 90 minutos, a área de projecto, a formação cívica, sobrecarregando os currículos, fingindo não ver o problema central do excesso de alunos por turma, entre outros obstáculos estruturais que se perpetuam), o PSD não é menos responsável por actuar por omissão, quer como oposição, quer como poder. Até hoje o PSD não foi capaz de revelar frontalidade e coragem para romper com a sua matriz ideológica para a área da educação, em clara divergência as suas orientações ideológicas noutros domínios da acção política. Essa incongruência tem marcado a postura política dos sociais-democratas desde a sua fundação em 1974. É altura de debater a questão.
 
Vale a pena sublinhar que o problema do ensino é, antes de tudo o resto, um problema político com uma fortíssima componente ideológica, espelhada numa ideologia pura e dura disfarçada de ciência (as ditas «ciências» da educação). O problema é que essa tendência parece dominar o interior dos dois grandes partidos políticos: o PS e o PSD. Para não falar nos outros. O ensino melhorará naquilo que é essencial e com sustentabilidade quando as principais forças políticas mudarem no seu interior tendo em conta os seus posicionamentos face ao ensino. Não se trata, portanto, apenas do PSD romper com a tradição ideológica da esquerda em geral. Neste caso e acima de tudo, trata-se de os sociais-democratas romperem com a sua própria tradição (porque se confunde com a tradição da esquerda em geral) e respeitarem as sensibilidades relativas ao ensino dos seus militantes, dos seus simpatizantes e de uma parte importante da sociedade portuguesa que não se revê no que existe, nem dispõe de projectos políticos que respondam às suas legítimas ambições.
 
A solução do problema educativo é, por isso, uma batalha essencialmente ideológica e demasiado séria. Não ter coragem nem capacidade para enfrentá-la é continuar a adiar o país. É também óbvio que, ao nível das políticas educativas, nada mais há a esperar do actual PS. Ou o PSD consegue construir, desde já, um pensamento e um programa políticos consequentes, estruturados e fortes, capazes de romper com o statu quo e de apontar um outro caminho para o ensino com o qual os sociais-democratas se identifiquem enquanto colectivo, ou então arrastar-se-á a mediocridade em que nos atolamos.
 

Gabriel Mithá Ribeiro


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publicado por GP/PSD às 18:22 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Sábado, 04.10.08

Segundo a OCDE, em Portugal gastamos cerca de 6% do nosso PIB na educação. Somos o nono país do mundo com maior investimento per capita nesta área. Diz-nos a OCDE que Portugal tem um dos mais elevados ratios alunos/professores. Mesmo assim temos uma das taxas mais elevadas de abandono escolar. Mesmo assim temos resultados negativos na avaliação da qualidade do ensino.
Em 34 anos de democracia tivemos 30 ministros da educação. Trinta. Trinta ministros e quase tantas reformas. Tentámos de quase tudo. Trinta ministros. Trinta visões. Trinta paixões. A educação, dizem-nos, é uma prioridade.
Há dinheiro, há recursos humanos, há vontade política. Tentámos quase todos os sistemas e até inventámos outros. Nada resulta. E já culpámos os manuais escolares, já culpámos os políticos, as infra-estruturas, os sistemas, as reformas, as contra-reformas.
E se é verdade que o monstro administrativo consome grande parte dos recursos destinados à educação a responsabilidade, a culpa, pelo falhanço da educação começa, obviamente, na base do sistema. A responsabilidade primeira está em quem ninguém tem coragem de apontar o dedo: nos professores.
Nos professores porque o ensino não pode ser uma segunda escolha por falta de alternativas profissionais ou financeiras. Há muitos licenciados a dar aulas. Há poucos professores a fazê-lo. 
Nos professores porque não perceberam que o mundo mudou. Que a atenção de uma criança tem que ser disputada com os motores gráficos em 3D de uma playstation. E mesmo assim continuam a utilizar os mesmos métodos, as mesmas ferramentas, que já estavam ultrapassadas no tempo do João de Deus. Não há querer fazer melhor ou fazer diferente porque é mais fácil fazer da mesma maneira.
Nos professores porque, na sua obsessãozinha corporativa, se deixaram instrumentalizar politicamente através dos sindicatos. Porque estão mais preocupados com os seus “direitos adquiridos” que com os miúdos que deviam estar a ensinar. Sim. No meio de todas estas guerras e guerrinhas os alunos e o seu direito a um ensino de qualidade é a última das preocupações.
Não podemos continuar a discutir reformas, sistemas e até computadores Magalhães, sem discutir o que está na base. Sou um humanista. E por isso continuo a acreditar que até o pior dos sistemas funcionará sempre com as melhores das pessoas. Sendo que o contrário, vê-se, também é verdade.

 

Rodrigo Moita de Deus

Escritor


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publicado por GP/PSD às 17:24 | link do post | comentar | ver comentários (81)

As profissões desqualificadas e mal pagas estão a crescer em Portugal e é cada vez menor o peso relativo dos empregos com maior qualificação e que merecem melhores retribuições. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que o emprego está hoje mais desqualificado, quando se esperaria o contrário. Esta é a realidade em Portugal.

O investimento em educação - e é a educação juntamente com a formação que qualificam - deverá reunir três condições: primeiro, a oferta educativa deve ser de qualidade e percepcionada como tal; segundo, terá que promover um ganho de capital humano que se traduza em capital financeiro; por último, deve, caso se verifiquem as condições anteriores, permitir acesso a novos patamares de qualificação com qualidade e que se traduzam igualmente em retorno do investimento (ou que criem essa expectativa fundamentada).
É imperioso que as pessoas que procuram e atingem qualificação não alcancem apenas fogos-fátuos de crescimento no auto-conceito e na auto-estima, que se apagam seis meses depois da obtenção do diploma. Aquele diploma que daria a “nova oportunidade”. Há que fazer melhor pelas pessoas e pelo país.
José Manuel Canavarro
Pró-reitor da Universidade de Coimbra

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publicado por GP/PSD às 10:00 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 03.10.08

O destaque dado pelo chefe do Governo / Secretário Geral do PS, no tão glosado comício de Guimarães, à Ministra da Educação / militante Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) não deixa de ser, a um tempo, curioso e paradoxal.
 
Curioso porque Sócrates não só não deixa cair a Ministra, apesar de zurzida por todos os sectores, da esquerda à direita, passando por docentes, discentes e opinião publicada, como ainda a destaca relativamente aos seus pares do conselho de ministros, incensando-a nos altares da Comunicação Social como uma espécie de Joana d' Arc dos tempos modernos, a paladina da “revolução educativa” em Portugal.
 
Paradoxal pois, ao mesmo tempo que nunca a Educação, em Portugal, atravessou tempos tão difíceis, também nunca a propaganda e o marketing investiram tanto num sector procurando, como diz o povo sabiamente, dourar a pílula. E a pílula que resulta do consulado de MLR, é muito difícil de engolir e, apenas os mais incautos, julgarão tratar-se de um medicamento vital e até agradável de degustar, capaz de, qual elixir fantástico, curar de tudo, de unha encravada à queda do cabelo e dando, inclusive, garantias reais de longevidade.
 
O Governo aposta, pois, no efeito placebo, na educação. O problema serão os efeitos secundários na enferma república que resultarão de tal terapêutica irresponsável.
 
Portugal, em virtude de razões estruturais que, por esse motivo, só são passíveis de alteração sistémica mas, forçosamente lenta, tem índices de escolaridade e de literacia que, nos benchmark internacionais, seja da OCDE, seja da UE a 15 ou 27, invariavelmente, o colocam em posição de destaque pela negativa.
 
A situação é devidamente conhecida há muitos anos e, os sucessivos Governos, vieram com maior ou menor sucesso (mas acima de tudo com sensibilidade e bom senso) a prosseguir políticas que permitiram que o país recuperasse muito do tempo perdido por uma aposta estratégica tardia na Educação.
 
 
Pedro Roque
Vice – Secretário-Geral SINDEP (Sindicato Nacional e Democrático dos Professores)
Vereador na Câmara Municipal de Almada

 


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publicado por GP/PSD às 10:15 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quinta-feira, 02.10.08

Hoje, muitos economistas e decisores políticos estão empenhados em construir um novo tipo de economia, menos preocupada com a igualdade de oportunidades, mas antes em criar condições para que os indivíduos participem na produção de uma economia baseada no conhecimento pelo conhecimento e desempenhem o seu papel individual nesse processo, na procura de uma cada vez maior competitividade, frequentemente sustentada pela afirmação falsa e retrógrada de que os direitos são muitos e se devem reduzir, ou numa versão mais anti-social que considera, tal qual processo de aperfeiçoamento rácico que seres humanos com mérito são poucos e cabem nas quotas propostas para bons e excelentes.

 
Ora não ter percebido até hoje que as medidas economicistas em Educação se pagam a longo prazo e com juros, é de uma grande indigência.
 
É por isso que decisão após decisão, o abandono e o insucesso se mantém mesmo ao nível da escolaridade obrigatória e que Portugal continua a ser o País da Comunidade Europeia com a mais baixa taxa de diplomação e simultaneamente com mais elevada taxa de desemprego no seio dos quadros qualificados com Ensino Superior.
 
Isto significa que o modelo económico de desenvolvimento do em que o país está a apostar não consegue absorver sequer a reduzida qualificação que temos e opta, cada vez mais, pela precariedade e desqualificação das relações laborais.
 
Como é possível neste cenário criar expectativas…
 
As famílias, as crianças e os jovens deveriam acreditar que ir à Escola, frequentar as aulas, aprender a fazer, constituem mais valias indispensáveis ao seu quotidiano, ao seu futuro e que com elas a cidadania está mais assegurada.
 
Deixando como marginal, neste momento, a avaliação ao modelo de desenvolvimento que considero inadequado e inválido para responder às nossas necessidades, abordarei só a Escola que é preciso criar.
 
São cinco as áreas que, na minha opinião, deveriam ser alvo de transformação e que não coincidem, nem se aproximam das medidas em curso: 
  • O processo de ensino-aprendizagem
  • Os conteúdos programáticos
  • A escola – o espaço – o tempo
  • A gestão e administração
  • A formação dos professores 

 

Luísa Mesquita

Deputada à Assembleia da República


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publicado por GP/PSD às 18:02 | link do post | comentar | ver comentários (1)

No início de cada ano lectivo criam-se expectativas, definem-se objectivos, antecipam-se resultados, preparam-se aulas, reencontram-se velhos e fazem-se novos amigos.

Politicamente é também uma altura de análise retrospectiva e prospectiva.
À oposição cabe chamar a atenção para o que não parece ter corrido bem e merecerá, por isso, correcção e acompanhamento cuidado e, mais importante, cabe-lhe apresentar propostas para inovação e melhoria.
Cinco aspectos merecem atenção redobrada em 2008/2009.
1 – A Avaliação dos Professores. Propugne-se por um processo participado e auditado e, sobretudo, gerador de melhorias de desempenho auditáveis e públicas. Melhore-se…
2 – O Ensino Artístico Especializado. Não se limite a actividade dos Conservatórios nem a formação de músicos profissionais e não profissionais – agentes culturais no futuro (por exemplo, os que frequentam o regime supletivo dos Conservatórios). Pare-se ou não se avance…
3 - Transferência de Competências para as Autarquias. Permita-se que a Educação seja um factor diferenciador de um território e da sua gestão, e logo creditem-se mais competências às autarquias e estimule-se a diferenciação na gestão das Escolas. Descentralize-se mais…
4 – RJIES e os novos Estatutos das Instituições de Ensino Superior. As instituições adaptaram-se, alteraram os estatutos respectivos e este ano será o primeiro duma nova era que, em nossa opinião, continua a pecar pela pouca autonomia que o Estado Central consagra ao Ensino Superior. Aguardemos por melhorias…

 

José Manuel Canavarro
Pró-reitor da Universidade de Coimbra

 


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publicado por GP/PSD às 16:38 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Numa análise sobre a política educativa do governo constata-se que a sua implementação se caracteriza, essencialmente, por medidas, aparentemente reformistas, que têm vindo a descredibilizar e fazer regredir a educação de qualidade, e induzindo em erro os cidadãos menos informados.
Senão vejamos:
- Encontramos o reforço do centralismo fortemente dirigista e encapotado por medidas inexequíveis de descentralização, tomamos como exemplo, a gestão das escolas cujo reforço do autoritarismo burocrático da tutela é visível na legislação publicada, (apesar do Director ser eleito, as suas competências serão sempre comandadas a partir do Ministério da Educação pondo em causa a verdadeira autonomia das escolas) e na tentativa da passagem de competências do Ministério para as autarquias locais, sem estudos sustentados do seu desenvolvimento a nível económico e dos meios adequados de recursos humanos que respondam a um crescimento educativo sustentado.
 

Lisboa, 3 de Outubro de 2008
Carlos Alberto Chagas


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publicado por GP/PSD às 09:15 | link do post | comentar

Quarta-feira, 01.10.08

É uma exigência do futuro de qualidade que desejamos para Portugal que o sistema nacional de educação e formação seja já hoje construído sobre critérios de exigência, rigor e excelência. As decisões sobre as mudanças a operar no sistema educativo devem ser tomadas tendo em consideração o envolvimento dos profissionais da educação, os primeiros executores das medidas que forem julgadas necessárias para que os resultados escolares em Portugal melhorem. Se não o fizermos, estaremos a pôr em causa a qualidade a que a sociedade portuguesa tem direito.

            Entre os aspectos relevantes que condicionam a qualidade da educação em Portugal, sublinham-se as deficientes condições de trabalho que se verificam em muitas escolas, quer para alunos, quer para professores, quer para os trabalhadores não docentes, para além de identificar um conjunto de medidas inadiáveis que se tornam incontornáveis no tempo actual. A este nível, identificam-se:
1. A dimensão das turmas, que deve ser estabelecida de acordo com as necessidades de desenvolvimento de processos de aprendizagem consistentes. A preocupação pelo sucesso junto de todos os alunos e, em particular, daqueles que estão em dificuldade escolar, não é possível com as dimensões de turmas que temos tido no nosso país. Assinala-se que, a agravar esta situação, no presente ano lectivo, e na sequência do determinado pelo novo diploma regulador da Educação Especial, se regista um acréscimo do número de alunos por turma ao alterar os critérios de sinalização dos alunos para apoio em sede de necessidades educativas especiais.
2. Os espaços onde ocorrem as aulas, que devem ser específicos para tal, não sendo aceitável que se recorra a bibliotecas e até cantinas para aí fazer com que estas actividades se realizem, por efeito da sobrelotação de muitas escolas das grandes áreas metropolitanas. Impõe-se ainda que se garanta que as escolas disponham de espaços para o desdobramento de turmas nas situações de aulas práticas e que, no caso de disciplinas com componente experimental ou oficinal, esses espaços sejam específicos para a respectiva leccionação. Considera-se ainda que é essencial garantir que os espaços onde decorrem as actividades que consubstanciam a lógica da escola a tempo inteiro sejam diversos daqueles em que decorre a actividade lectiva.

 

João Dias da Silva

               Secretário-Geral da FNE


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publicado por GP/PSD às 16:05 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Terça-feira, 30.09.08

Emídio Guerreiro, deputado do Partido Social Democrata e membro da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, faz um retrato crítico sobre a Educação em Portugal, apontando responsabilidades ao Ministério da Educação pelo país “ficar adiado”.


A Educação entrou em força na agenda mediática. Recolhem-se opiniões de todos os quadrantes políticos e de figuras destacadas de áreas distintas. Na discussão sobre o estado do sistema educativo português há espaço para todos.
As reformas empreendidas pelo Ministério da Educação (ME), sob a liderança da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, são vistas à lupa, nas escolas e fora delas. Emídio Guerreiro vê-as como membro de uma Comissão que “tem promovido vários debates e esgrimido muitos argumentos”. Os membros do Governo têm de prestar esclarecimentos pelo menos quatro vezes por ano à Comissão. A ministra da Educação já foi chamada três vezes. A dificuldade em dialogar, diz o deputado, não é exclusiva dos sindicatos. Mas algumas discussões são inevitáveis. Sobretudo quando implicam alterações profundas.
Com formação na área dos Recursos Humanos, Emídio Guerreiro sabe bem que todas as organizações são resistentes à mudança.
“Mas em três anos [de governação] nunca houve a tentativa de fazer dos próprios professores agentes da mudança nas escolas.” Outra estratégia seria mais rápida e teria melhores resultados, garante.

 

Entrevista do Dep. Emídio Guerreiro, com Andreia Lobo/ Revista 2 Pontos.


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publicado por GP/PSD às 20:30 | link do post | comentar

Quem acompanha a política educativa deste Governo, deverá perguntar: Porque será que o Governo acabou com as provas globais no 9º ano? Porque lançou cursos de jogador de futebol que dão equivalência a esse 9º ano? Porque impôs um novo Estatuto do Aluno em que ninguém reprova mesmo que falte sempre às aulas? Porque desqualificou os professores, afectando a sua autoridade e a sua capacidade para serem exigentes com os alunos? Porque avisou as escolas que seriam melhor avaliadas se chumbassem menos alunos? Porque acabou com o exame de Filosofia no 12º ano? Porque condicionou a avaliação e progressão na carreira dos professores, fazendo-as depender das notas que dão aos alunos na avaliação contínua? Porque decretou, este ano, mais 30 minutos de tolerância em todos os exames nacionais? Porque disse a Ministra publicamente que as reprovações custavam muito dinheiro ao bolso dos contribuintes? Porque se revoltou tão abnegadamente contra todos os peritos, especialistas, professores, associações de pais e sociedades científicas que denunciaram que os exames nacionais deste ano eram “anormalmente” fáceis?

A resposta chegou esta semana com a encenação mediática em que o Primeiro-Ministro se vangloriou – imagine-se – da enorme redução do número de reprovações! A máscara caiu.
Assim se esgota toda uma política de Educação.
E assim se cria um verdadeiro manual de destruição da escola pública!
Artigo de opinião/Revista Focus
 
Pedro Duarte
Deputado do PSD
www.pedroduarte.com

 


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publicado por GP/PSD às 19:30 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Neste momento conturbado da vida das nossas escolas importa referir que os erros do modelo de avaliação dos professores são a 2 níveis.
Ao nível da forma o processo pautou-se numa imensa trapalhada de decretos e despachos contraditórios que remetiam para recomendações inexistentes de um Conselho Cientifico da Avaliação dos Professores que só na semana passada foi finalmente constituído (sem ninguém ligado ao ensino de português e matemática!) numa manifestação de incompetência condenável a todos os títulos.
Ao nível do conteúdo a escolha recaiu num modelo complexo (chamado já de Mapa do Metro de Londres) em que o colega avalia o colega quer assistindo a aulas quer por meio de fichas de avaliação, onde as notas atribuídas aos alunos também pesam na “nota final” do professor.
Este modelo de avaliação não tem paralelo nos países de referência da Europa! É mais uma invenção da 5 de Outubro que apenas tem servido para agitar as escolas e mobilizar os professores na luta.
 


Emídio Guerreiro
Deputado PSD


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publicado por GP/PSD às 19:00 | link do post | comentar

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